25 de maio de 2010

O jogo arte x o pragmático

Depois de ler o texto opinativo de Humberto Frasson, que fazia uma pequena analogia sobre o jogo entre Santos e Grêmio pela Copa do Brasil, eu fiquei pensando: Será que existe arte e pragmatismo em outros esportes? Mas o que seria "pragmático"? Bom, não é futebol do grêmio. Esse é aguerrido. É diferente.
Pragmático é aquele time que não encanta, e muitas vezes na história do futebol vimos equipes assim serem campeãs. Um exemplo clássico é a Alemanha da Copa de '54, que fez o futebol pragmático ganhar dos "Mágicos Magiares", como era conhecida a famosa seleção húngara de Puskas e companhia.
No Basquete já vimos equipes darem show também. O que falar do “Dream Team” dos Estados Unidos nas olimpíadas de Barcelona (92)? Sim, eu sei que é covardia falar desse time, que é o maior de todos no Basquete, mas ele jogava bonito, dava espetáculo. Assim como a seleção brasileira de '70 (embora eu prefira a de '58 - o que é assunto para outra coluna).
E falando em seleção, a de '82, comandada pelo “mestre” Telê Santana, é a essência do futebol-arte. É uma poesia tão bela quanto às de Vinicius de Moraes. Mas aquele escrete não levou a Copa, só mais um dos pecados do certame da FIFA, assim como foi com o carrossel holandês no mundial de '78.
O "jogo arte" muitas vezes não vence, e as hilárias partidas de tênis do “Fininho” (Fernando Meligenni) só comprovam isso. O argentino erradicado no Brasil, que defendeu as cores verde e amarelo por toda a carreira, chegou a uma semifinal de Rolland Garros e, enquanto dava show, um garoto "manézinho da ilha" dava show na outra chave. Agora, imaginem o que seria da Phillip Chatrier (nome da quadra principal de Rolland Garros), se Guga e Melligeni tivessem disputado a final. Fininho ficou de fora, mas Guga levou para Floripa o primeiro dos três títulos do Grand Slam.
E o pragmático Michael Schumacer, heptacampeão mundial de fórmula 1? É melhor do que Senna, Mansell e Prost? Os três juntos somam um título a mais que Schumi, e davam espetáculo na fórmula 1. Não que Schumacer também não desse ( pois hoje não passa de um figurante dentro da F-1), mas a fama de Dick Vigarista não deixou ele ter o encanto do trio.
A maior incógnita dessa disputa épica entre "jogar o caviar" e "jogar o arroz e feijão" (sem menosprezar o prato preferido do brasileiro, é claro), é saber o que o público mais gosta. Esse ano a final da NBA provavelmente será entre o "Basquete de resultado" do Boston Celtics, contra a estupenda equipe de Kobe Bryant – O Lakers. Os americanos - como os brasileiros - gostam de um jogo bonito.
Hoje, o maior equilíbrio que encontro entre jogo arte e jogo feio, é na equipe da Inter de Milão (campeã de tudo na Europa). Quando precisou dar chutão contra o Barcelona, o fez; e na final da Champions League, jogou feio e bonito ao mesmo tempo.
Arte e pragmatismo andam lado a lado no mundo do esporte e, inevitavelmente, sempre ficam frente a frente.

21 de maio de 2010

Os primeiros passos antes da Copa


A última sexta-feira foi diferente para o povo curitibano, a chegada da seleção brasileira mudou a rotina da capital. Em todos os lugares só se ouve uma assunto: “Pô, será que vamos conseguir ver os jogadores?”.
Na chegada no aeroporto Afonso Pena, os jogadores seguiram da pista para o ônibus, decepcionando cerca de 200 torcedores que se encontravam no saguão do aeroporto. Quando o veículo que levava os jogadores se aproximou do Ct do furacão o povo ficou animado, pediam desesperadamente para que os atletas abrissem o vidro. Todo esforço do público foi em vão, a impressão que deu é que os papéis se inverteram, o povo curitibano tachado de frio foi super caloroso, enquanto a seleção foi extremamente gelada.
Enquanto os amantes da seleção ainda se aglomeravam na entrada do Ct do Caju os jogadores faziam exames físicos. Os treinos aqui em Curitiba serão somente físicos, e os jogadores só devem ir a campo no domingo.
Muitos imaginam o que deve estar acontecendo dentro da concentração, eu tive o privilégio de saber, como podem ver nas fotos exclusivas (pelo menos por enquanto) os jogadores estão trabalhando firme a parte física.
O clima descontraído mostra a união do grupo convocado pelo técnico Dunga, agora é ficar na torcida para que Curitiba possa ter seu pedacinho na história de um título mundial brasileiro... E que venha o Hexa!

5 de maio de 2010

A voz do povo é a voz de Deus? Pro Dunga não!


A cada quatro anos, às vésperas de sair a lista dos selecionáveis brasileiros para a Copa, a história se repete, só os personagens mudam.
Perto da Copa de 70 o Presidente Médici “pedia” o atacante Dadá do Atlético-MG na seleção, o técnico João Saldanha rebateu o pedido e exclamou: “O Presidente escala o ministério e eu a seleção!”. Foi a gota d´água para um técnico que havia chamado o “Rei” de cego, em plena ditadura o comunista Saldanha caiu e entrou em seu lugar Zagallo que sem remediar levou Dadá para a Copa do México.
No último mundial conquistado pelo Brasil, houve um grande apelo para que o baixinho Romário fizesse parte da ‘família Scolari’, mas o gaúcho Felipão não se rendeu ao povo e deixou o herói do Tetra fora do Penta. Hoje perto da convocação do técnico Dunga, o povo clama pelos novos meninos do Santos no grupo canarinho.
Outdors, Músicas e até no carro no carro do piloto Giuliano Losaco da Stock Car aparece o pedido: “Dunga convoca o Neymar!”. A nova jóia do futebol brasileiro esta voando, jogando muito mais do que pré-convocados como o ‘Imperador ‘ Adriano. Tudo bem que o garoto não tem experiência , se joga demasiadamente em campo, mas quando pega na bola e parte pra cima dos zagueiros nos remete ao velho esporte bretão, alegre e empolgante.
Já o pedido para o Ganso estar na seleção é mais humilde, mas na minha opinião ele é que mais merece vestir a amarelinha na África do Sul. O Paulo Henrique Ganso é um camisa 10 à moda antiga, clássico e inteligente, que aos 20 anos de idade é o cérebro da equipe mais badalada no momento no futebol brasileiro, além de não sentir o peso de vestir a famosa 10 que já foi de Pelé.
Bravo e turrão, Dunga esta cada vez mais parecido com o Zangado, dificilmente o capitão de 94 vai se render aos encantos do futebol-arte dos jovens. Os meninos (Ganso e Neymar), podem entrar na galeria de jogadores do povo que não foram para a equipe que na tese é pro povo, assim como aconteceu com Falcão(78) e Rivaldo (94).
Deixar Ganso e Neymar fora da Copa é um pecado; Mas hoje na seleção a voz do povo não vale nada e a do Dunga é lei!

4 de maio de 2010

O hippie que virou pop star


Ao chegar no camarim do grupo Jota Quest, encontro o vocalista Rogério Flausino posando para fotos publicitárias, fico no canto e após a sessão de fotos ele senta ao meu lado para começarmos a entrevista. Só que a primeira pergunta foi feita por ele, “Tá nervoso?(risos)” e continua... “Eu sempre fico nervoso, seja antes de show, ou antes de alguma apresentação na TV, radio ou durante uma premiação, é por isso que a gente bebe, acaba relaxando”.
Sempre com um sorriso no rosto Flausino bate um papo descontraído, e acabo esquecendo que estou fazendo uma entrevista. Ao lado da gente se encontram os outros integrantes do grupo; Pj, Marco Tulio, Paulinho Fonseca e Marcio Buzellin.
A vida do vocalista como ele próprio define é um sonho de criança que virou realidade, mas antes de ser integrante de um grupo famoso Rogério ralou muito, trabalhou boa parte da vida como analista de sistemas antes de se dedicar a música. Sua primeira banda foi “Contatos imediados” e tocava em bailinhos na cidade natal do artista, Alfenas.
O vocalista é sempre a figura mais lembrada de um banda, mas Rogério foi o último a entrar no grupo. Após catorze tentativas, entre elas mulheres no estilo Janis Joplin, Negrões com vozes firmes no estilo soul funk, foi o hiponga cantor de regae que teve mais afinidade com os outros integrantes, e o fato do Rogério ter 200 doláres para gravar uma fita demo ajudou.
“Eu tava saindo de um crise hiponga, por que todo mundo passa por uma crise dessas, usar sapatinho de camurça, calça de bali, cabelo raspado, barbixinha e colarzinho paz e amor, tipo fim de carreira”(risos). Rogério que tinha uma ligação zero com a black music, mas muito ligado em rock nacional, a identificação com as idéias do Flausino e uma afinidade pessoal ajudaram a alavancar a carreira da banda.
O grupo estourou com um cd totalmente dedicado ao Black Music, mas foi em 1998 que Rogério se destacou no Brasil, após o lançamento do clássico álbum “De volta ao planeta” onde o grupo inovou e gravou uma música do Rogério em parceria com seu irmão Wilson Sideral, uma balada de violão simplesmente fácil.
Rogério define que cantar no Jota Quest é trabalho e ao mesmo tempo diversão, “quando a diversão sair e ficar só o trabalho não vai dar mais nada certo”, concluí o vocalista. Hoje com 38 anos, casado e pai, Rogério sofre com a perda de audição do ouvido direito, “Já perdi cerca de 25% a 35% da audição do ouvido direito, é justamente no que uso o earphone, essa perda é irreversível, não volta.” Devido a esse problema de saúde o grupo teve que se adequar ao fato de fazer menos barulho, o que é quase inevitável quando se trata de uma banda de pop rock.
Um dos maiores petis do vocalista com o grupo foi quando o som estava muito alto e prejudicando sua audição, “Eu tava estourado já, perdi a cabeça larguei o microfone e fui desligar o amplificador, pô já imaginou ficar surdo? Não dá!”
Após o lançamento do cd “De volta ao planeta” o grupo estourou de vez no cenário nacional, e Flausino descreve esse como um dos piores e melhores momentos da história da banda, “O dinheiro tava pingando na conta, já não dava pra andar na rua, os programas de TV nos convidando a todo momento, e nós queríamos estar em todas...”. É nessa época que as músicas começaram a tocar nas rádios populares, junto com isso tudo veio uma superexposição. “Administrar a vida pessoal junto com o momento do grupo foi a pior parte, a namorada né?... administrar dinheiro, que eu nunca tinha tido.”
Quando o questionou sobre a tal da fama ele responde: “Ah, a tal da fama... ela te traz um monte de coisa boa, mas também traz um monte de coisa que não serve pra nada. Mas é o tal do ‘ver pra crêr’.”
Depois da turbulência de um disco que mudou a história do grupo veio o momento de fazer um novo cd, que em vez de ser feito com calma foi produzido em apenas 4 meses. Na época do lançamento Rogério descreve que foi o momento que ele foi mais criticado, pelas letras do novo cd e pela fama que os críticos falavam que havia subido demais a cabeça dele e do grupo. “Foi um momento que eu não sabia de onde vinham as pedras, o nosso sucesso foi muito rápido aquilo parecia que era um complô pra me derrubar e assim derrubar o Jota”, os releases da época falavam muito dos supercontratos comercias do Rogério, das ruins letras, da superturnê que o grupo iria fazer, e pôr fim os tratavam ironicamente como a superbanda. “Desde então venho tentando mostrar que eu sei que vacilei, que o sucesso realmente subiu minha cabeça e a do grupo, mas que a gente é bom... que a gente é músico mesmo, que não somos um fake.”
Hoje em um momento menos underground Rogério acha que já mostrou para todos que o Jota Quest é realmente uma banda sem maquiagem, o vocalista e compositor que gosta mais das músicas “lados B” terminou exclamando que mostrou que apesar de tudo ele e os outros integrantes do grupo são gente, como todo mundo.
Rogério Flausino é muito carismático, é aquele cara que chega no lugar e logo você sente vontade de cumprimentar, por ser vocalista e ser a pessoa mais assediada do grupo a responsabilidade dele é maior, e consegue fazer o seu papel como ninguém, como os colegas do grupo falam, Rogério é ansioso e sempre pensa na banda. Ele é de uma família altamente musical, seus irmão Sideral e Landau sempre foram um espelho para “Rogerinho”.
Antes de subir ao palco para o show, Rogério olha pra mim e com um sorriso de um garoto que vai tocar pela primeira vez com a sua banda fala: “Será que todo dia vai ser sempre assim?”...