4 de maio de 2010

O hippie que virou pop star


Ao chegar no camarim do grupo Jota Quest, encontro o vocalista Rogério Flausino posando para fotos publicitárias, fico no canto e após a sessão de fotos ele senta ao meu lado para começarmos a entrevista. Só que a primeira pergunta foi feita por ele, “Tá nervoso?(risos)” e continua... “Eu sempre fico nervoso, seja antes de show, ou antes de alguma apresentação na TV, radio ou durante uma premiação, é por isso que a gente bebe, acaba relaxando”.
Sempre com um sorriso no rosto Flausino bate um papo descontraído, e acabo esquecendo que estou fazendo uma entrevista. Ao lado da gente se encontram os outros integrantes do grupo; Pj, Marco Tulio, Paulinho Fonseca e Marcio Buzellin.
A vida do vocalista como ele próprio define é um sonho de criança que virou realidade, mas antes de ser integrante de um grupo famoso Rogério ralou muito, trabalhou boa parte da vida como analista de sistemas antes de se dedicar a música. Sua primeira banda foi “Contatos imediados” e tocava em bailinhos na cidade natal do artista, Alfenas.
O vocalista é sempre a figura mais lembrada de um banda, mas Rogério foi o último a entrar no grupo. Após catorze tentativas, entre elas mulheres no estilo Janis Joplin, Negrões com vozes firmes no estilo soul funk, foi o hiponga cantor de regae que teve mais afinidade com os outros integrantes, e o fato do Rogério ter 200 doláres para gravar uma fita demo ajudou.
“Eu tava saindo de um crise hiponga, por que todo mundo passa por uma crise dessas, usar sapatinho de camurça, calça de bali, cabelo raspado, barbixinha e colarzinho paz e amor, tipo fim de carreira”(risos). Rogério que tinha uma ligação zero com a black music, mas muito ligado em rock nacional, a identificação com as idéias do Flausino e uma afinidade pessoal ajudaram a alavancar a carreira da banda.
O grupo estourou com um cd totalmente dedicado ao Black Music, mas foi em 1998 que Rogério se destacou no Brasil, após o lançamento do clássico álbum “De volta ao planeta” onde o grupo inovou e gravou uma música do Rogério em parceria com seu irmão Wilson Sideral, uma balada de violão simplesmente fácil.
Rogério define que cantar no Jota Quest é trabalho e ao mesmo tempo diversão, “quando a diversão sair e ficar só o trabalho não vai dar mais nada certo”, concluí o vocalista. Hoje com 38 anos, casado e pai, Rogério sofre com a perda de audição do ouvido direito, “Já perdi cerca de 25% a 35% da audição do ouvido direito, é justamente no que uso o earphone, essa perda é irreversível, não volta.” Devido a esse problema de saúde o grupo teve que se adequar ao fato de fazer menos barulho, o que é quase inevitável quando se trata de uma banda de pop rock.
Um dos maiores petis do vocalista com o grupo foi quando o som estava muito alto e prejudicando sua audição, “Eu tava estourado já, perdi a cabeça larguei o microfone e fui desligar o amplificador, pô já imaginou ficar surdo? Não dá!”
Após o lançamento do cd “De volta ao planeta” o grupo estourou de vez no cenário nacional, e Flausino descreve esse como um dos piores e melhores momentos da história da banda, “O dinheiro tava pingando na conta, já não dava pra andar na rua, os programas de TV nos convidando a todo momento, e nós queríamos estar em todas...”. É nessa época que as músicas começaram a tocar nas rádios populares, junto com isso tudo veio uma superexposição. “Administrar a vida pessoal junto com o momento do grupo foi a pior parte, a namorada né?... administrar dinheiro, que eu nunca tinha tido.”
Quando o questionou sobre a tal da fama ele responde: “Ah, a tal da fama... ela te traz um monte de coisa boa, mas também traz um monte de coisa que não serve pra nada. Mas é o tal do ‘ver pra crêr’.”
Depois da turbulência de um disco que mudou a história do grupo veio o momento de fazer um novo cd, que em vez de ser feito com calma foi produzido em apenas 4 meses. Na época do lançamento Rogério descreve que foi o momento que ele foi mais criticado, pelas letras do novo cd e pela fama que os críticos falavam que havia subido demais a cabeça dele e do grupo. “Foi um momento que eu não sabia de onde vinham as pedras, o nosso sucesso foi muito rápido aquilo parecia que era um complô pra me derrubar e assim derrubar o Jota”, os releases da época falavam muito dos supercontratos comercias do Rogério, das ruins letras, da superturnê que o grupo iria fazer, e pôr fim os tratavam ironicamente como a superbanda. “Desde então venho tentando mostrar que eu sei que vacilei, que o sucesso realmente subiu minha cabeça e a do grupo, mas que a gente é bom... que a gente é músico mesmo, que não somos um fake.”
Hoje em um momento menos underground Rogério acha que já mostrou para todos que o Jota Quest é realmente uma banda sem maquiagem, o vocalista e compositor que gosta mais das músicas “lados B” terminou exclamando que mostrou que apesar de tudo ele e os outros integrantes do grupo são gente, como todo mundo.
Rogério Flausino é muito carismático, é aquele cara que chega no lugar e logo você sente vontade de cumprimentar, por ser vocalista e ser a pessoa mais assediada do grupo a responsabilidade dele é maior, e consegue fazer o seu papel como ninguém, como os colegas do grupo falam, Rogério é ansioso e sempre pensa na banda. Ele é de uma família altamente musical, seus irmão Sideral e Landau sempre foram um espelho para “Rogerinho”.
Antes de subir ao palco para o show, Rogério olha pra mim e com um sorriso de um garoto que vai tocar pela primeira vez com a sua banda fala: “Será que todo dia vai ser sempre assim?”...

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