Humberto Frasson

O Dr. Socrates, capitão da seleção brasileira na Copa de 82, um dos líderes da Democracia corinthiana, eleito pela FIFA um dos 125 melhores jogadores da história do futebol ainda vivos. Concedeu essa entrevista, onde falou sobre diversos assuntos, entre eles Corinthians e seleção brasileira.
Como se sente tendo feito parte daquela seleção da copa de 1982?R: Era um grupo fantástico, mas isso não tem muita importância não. O importante é o que você é, e não o que você faz ou participou.
O Dr. Vê alguma semelhança entre a seleção de 1982 e o movimento das diretas já?
R: Ambos uniram o povo brasileiro, só que na copa foi a arte, o futebol bonito que uniu o povo. Nas diretas já o povo se uniu em busca de seus direitos. A seleção era uma expressão artística que também faz parte da nossa cultura, já as diretas foi um movimento político, a única semelhança entre as duas é mostrar o quanto o povo brasileiro se une. Apesar de hoje em dia o brasileiro só se unir a cada quatro anos no mês da Copa.
Como fica o coração perto da Copa do Mundo?R: Torcendo pelo Brasil. Mas como hoje eu penso em futebol, escrevo sobre futebol, não posso me dar ao luxo de ser fanático. Quem tem visão crítica não pode ter visão apaixonada, tem que ser torcedor uma vez ou outra, apesar de querer ver o Brasil campeão sempre.
Aquele pênalti desperdiçado nas quartas de final da copa de 86 contra a França, foi um dos piores momentos da sua carreira?R: Nada disso! O duro foi perder a mulher que eu amava(risos). Pênalti todo mundo perde, é uma questão de trabalho, isso não vale nada. Entenda o seguinte, é muito mais importante uma lágrima do que um saco de dinheiro, é muito mais importante um carinho, um abraço, do que um gol na Copa do Mundo. É muito mais importante um amor, do que ser campeão do mundo.
A Democracia Corinthiana foi o maior movimento ideológico da história do futebol brasileiro, como esse fato afetou os jogadores do Clube a ponto de uma melhora dentro dos gramados? R: A Democracia corinthiana colocou uma postura educativa no clube, todos tinham o mesmo direito; do roupeiro ao jogador de maior salário, o valor dos votos era igual. Tínhamos uma postura igual a que todo o povo brasileiro queria, de igualdade. E outra, não mudou os jogadores, mudou os dirigentes, isso proporciona uma melhhora tremenda dentro de campo, começamos a jogar livres, sem pressão, tínhamos poder de decisão, isso ajuda o jogador.
O Dr. Acha que hoje o Brasil já é por completo um país democrático?R: Ainda não. Hoje só temos direito a voto, precisamos ter uma democracia social e econômica também, e estamos muito distante disso.
Hoje em dia tem algum jogador que te desperta o interesse de ver jogar?
R: Existe muitos jogadores bons, mas o Paulo Henrique Ganso é um jogador que se diferencia dos outros. É inteligente, enxerga bem os espaços no campo, é bonito de se ver jogar.
Hoje é difícil a torcida criar uma identidade com os jogadores, a culpa é do futebol comercial que existe?R: Hoje o jogador fica muito pouco tempo no clube, não dá pra criar uma paixão, amor, se você fica um dia na casa de alguém, tem que ficar anos. Hoje ninguém para em lugar nenhum é uma rotatividade muito grande, não dá pra criar um sentimento de quem fica 10 ou 15 anos como os jogadores ficavam no passado. A forma de relação clube e jogador atualmente é diferente, e isso tem que ser respeitado.
Falta personalidade nos jogadores atualmente? Já que muitos são manipulados por seus empresários.R: Não é falta de personalidade, é falta de educação. Tem é que dar educação pra esse povo, se não vai ficar por isso mesmo, vão ser manipulados pro resto da vida , e não só por empresários, mas por técnicos, dirigentes e até mesmo os filhos. Às vezes o filho de 3 anos é mais inteligente do que o cara de 30 que vai jogar no seu time, e isso ta claro, tem que educar esse povo, e não são só os jogadores, todos os brasileiros tem que ser educados. E a obrigação é do Estado.
O Dr jogou no Corinthians, Botafogo de ribeirão Preto , Fiorentina, Flamengo e Santos. Qual foi sua maior paixão no futebol?R: O Botafogo foi o clube que comecei, é um carinho especial, é como sua primeira namorada. O Corinthians foi o clube me deu visibilidade, foi aonde cheguei na seleção, foi minha primeira esposa, aquela que deixa marcas profundas no coração. A Fiorentina foi o time que me acolheu na Europa. O Flamengo é o Flamengo, qual jogador não sonha poder vestir a camisa dos clubes com maiores torcidas do Brasil?
Eu vesti as duas. O Santos, era o time que torcia na infância, então teve um sentimento especial. Mas a minha marca é Corinthiana, não que os outros tenham sido piores. Eu me apaixonei por todos.
Como foi conciliar o futebol com o curso de medicina?R: Foi difícil, mas dava mais importância a faculdade, o futebol foi um acidente de percurso na minha vida,um bom acidente por sinal. Só me dediquei mesmo ao futebol depois que concluí a faculdade, não que desprezava os treinamentos, mas sim a importância que eu dava foi maior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário