14 de dezembro de 2010

A Curitiba que nem todos querem ver

Danilo Georgete
Lucas Kotovicz


A maioria da população se vangloria por morar na cidade de Curitiba. Talvez pela forte influência midiática, que trata a capital do Paraná como a cidade modelo, exemplo de transporte urbano e da sustentabilidade.

Mas Curitiba é modelo de que? Logo vem a mente o “bom” transporte público e os belos parques, mas só isso serve para ser conhecida como modelo? A cosmopolita Curitiba sofre com problemas igual à toda grande metrópole. Embora a capital paranaense tenha sim, belos parques, a maioria deles são cópias. Um exemplo é o Jardim Botânico. A conhecida estufa é uma cópia de um palácio de Londres e, seus jardins, são cópias fiéis dos jardins de Luxemburgo, em Paris.

Grandes problemas vêm afetando Curitiba nos últimos anos. A cidade inchou com o grande número de migrantes e, como toda grande cidade, ficou a mercê da violência e da insegurança, que são cada vez maiores na cidade.

O estudante de jornalismo Rodrigo Araújo saiu de sua cidade natal, São Paulo, para estudar em Curitiba. Depois de ser assaltado, após cinco anos morando aqui, Araújo mudou sua opinião quanto à capital paranaense. “Antes eu andava de madrugada tranquilamente. Saia e voltava para casa a pé às 3 da manhã sossegado. Para mim, era 3 horas da tarde. Há um ano, eu estava voltando para casa e me assaltaram a 50 metros de casa, às 6 da manhã.”, conta. Depois disso, o estudante mudou totalmente de opinião quanto à segurança da cidade. “Quando eu mudei para cá, Curitiba era uma. Hoje é outra, completamente diferente. Hoje eu presto mais atenção quando eu saio na rua”, diz.

Matheus Lara, estudante de ensino médio, veio de São Mateus do Sul para estudar em Curitiba. Morando a pouco menos de um ano no centro da capital, Lara revela que foi assaltado em plena luz do dia, em frente ao shopping Cristal. “Um chegou com uma faca, e o outro com uma arma. O assaltou levou alguns segundos. Quando olhei para os lados, chegou um senhor e disse que tinha visto que as mesmas pessoas que me assaltaram, tinham assaltado uma senhora a poucos minutos atrás. Fiquei indignado. Primeiro, porque as mesmas pessoas fizeram dois assaltos em questão de minutos. Segundo, porque o senhor que viu os dois assaltos não fez nada”, conta. Por morar em um apartamento, Matheus também já viu um assalto de sua sacada. “Vi todo o processo: desde os elementos chegando perto da moça. O grito dela, e a correria. Não pude fazer nada na hora. Fiquei imóvel. Foi muito rápido”, diz.

Muitos locais que atraem turistas e os fascina durante o dia, acabam se tornando lugares obscuros e perigosos, lembrando tão bem cenários dos livros do escritor curitibano Dalton Trevisan. Enquanto de dia a modernidade e a aparente organização se mostram quase supremas, à noite a realidade se distancia - e muito - da aprazível Curitiba. Neste período a cidade se revela uma paisagem típica dos grandes centros: jovens em busca de diversão - lícita ou ilícita -, que se movimentam contrários às implícitas leis de ordem e civilidade. O teatro Guaíra, outro grande monumento da cidade, é palco para usuários de crack ao redor. “É a juventude que se mostra oposta à hipócrita fantasia de ‘cidade modelo’”, afirma a blogueira Anna Azevedo, que escreve sempre sobre uma Curitiba alternativa.

O Museu Oscar Niemayer, popularmente conhecido como museu do olho, é um dos pontos da cidade que anda perdendo o brilho. A moradora Maria* falou que é frequente ver nas dependências do museu jovens se drogando. Ela também disse que o museu é um lugar que atrai muitos mendigos, que vão até lá para pernoitar. Maria relata que os seguranças do museu são agressivos e abusam da violência, muitas vezes com a conivência da polícia. “Os seguranças do museu usam de violência contra mendigos que procuram abrigo para dormir. Uma vez tive o desprazer de ver o pobre do mendigo chorando de frio, por ter sido molhado pelos seguranças depois de apanhar.”, conta.
E não é somente o Museu do olho que sofre com essa brusca mudança de comportamento, sendo de dia atrações turísticas bem vistas, e a noite pontos que envergonham a cidade.

Outro exemplo clássico de bipolaridade de pontos turísticos curitibanos é o centro histórico. Localizado no Largo da Ordem, abriga uma cultura imensa, casarões antigos, igrejas e várias atrações, como a tradicional feirinha do largo da ordem que acontece todos os domingos. Mas o Largo é um dos locais mais perigosos da cidade de noite. “O Largo é muito perigoso, se ficar dando bobeira lá é óbvio que vai ser assaltado” conta o estudante Carlos Carvalho, de 20 anos. Carlos ainda discorreu que é comum encontrar no Largo adeptos da ideologia neonazista, “Eles sempre estão por lá, é comum vê-los, os skinheads são ridículos, já vi alguns deles baterem em homossexuais na região do centro histórico”.

Já existem discussões para resolver os problemas da cidade. Além de projetos feitos pela prefeitura, incentivo salarial para policiais, revitalização da cidade entre outros projetos, também há projetos paralelos de entidades como o instituto Gaudium e a Ação Social do Paraná que realizaram nos dias 10, 11 e 12 de setembro a segunda edição da Festa da Luz. A festa teve como objetivo revitalizar o centro histórico da cidade. Como em todos os grandes centros do Brasil, Curitiba sofre com vários problemas de infraestrutura, aqui não é a capital de conto de fadas como muito se diz por aí.

*Nome Fictício.

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