9 de abril de 2012

Quatro gerações, uma paixão e a estreia do novo ídolo

Era um sábado de manhã, saímos de Curitiba rumo a Santo André a fim de passar o domingo no aniversário da avó. Chegando à grande São Paulo, escutamos no rádio uma matéria sobre o jogo. O menino Neymar estaria no banco. Eu tentava convencer meu pai a me levar ao Pacaembu para ver o que teoricamente seria um simples jogo do Santos contra o Oeste.

Já na casa da minha vó, depois de conseguir convencer meu pai, foi a vez de chamar meu avô para ir ao estádio. Resultado: fomos os quatro. Eu, meu irmão, meu pai e meu avô compramos os ingressos para a partida após enfrentarmos a fila gigantesca do estádio Bruno José Daniel, em Santo André, que era um dos pontos de vendas dos ingressos.

Almocei radiante, contente, ia conhecer o Pacaembu, ia ver meu time jogar, pela primeira vez iria ao estádio ver um jogo do Santos na companhia das três pessoas que sempre sofrem comigo vendo o santástico pela TV.

Estacionamos o carro longe do estádio, tivemos que enfrentar uma descida monstruosa, meu avô lá, firme e forte, apesar do problema de coração. Já chegando perto do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, escutamos o som da torcida. Aquele barulho empolgante, animador, e meu coração batendo no ritmo. “Ô, Ô, Ô, vamos vencer, Santooos”.

Já dentro do Pacaembu, nos ajeitamos em um lugar privilegiado atrás do gol, estava encantado com a beleza do estádio, meu vô me enchia de histórias do jogo Santos x Bahia que ele viu na década de 60 no mesmo Pacaembu, quando a tal concha acústica ainda existia onde hoje é o tobogã do estádio. Viajei no tempo, me imaginei em 60 junto com meu vô vendo aquele time mágico do Santos. Ele viu Pelé jogar, quer mais o que? Me perguntei no momento.

Meu avô, Sr. Antonio Alves, estava feliz. Ele não falou, mas eu via no rosto dele a felicidade de estar entre os netos e o filho vendo um jogo do Santos. A Torcida Jovem cantava, o Santos jogava de listrado, o estádio era todo nosso. O jogo era tenso, o Santos errava muitos passes, o lateral esquerdo, Triguinho, era vaiado pela torcida, o meio campo, Molina, não encantava. Era só mais um jogo.

Os reservas foram para o aquecimento e ficaram atrás do gol – perto de onde estávamos vendo o jogo. O canto mudou, a torcida começou a gritar “Neymar, Neymar, Neymar!”. Assumo que já tinha ouvido várias histórias sobre o menino, já o tinha visto jogar um daqueles jogos de fim de ano que os jogadores promovem apenas por diversão.

Eis que o técnico Wagner Mancini aponta, chama o garoto Neymar para entrar e o estádio vem abaixo. Neymar, surpreso, apontou para ele mesmo, recebeu o sinal de positivo, olhou para a torcida, saiu em disparada correndo e tirando o colete... Ele ia estrear. Eu ia presenciar um novo craque surgir.

Foi como se eu estivesse num momento histórico. Assinando, sei lá, o documento de abolição da escravatura ou vendo Dom Pedro exclamar “Independência ou morte”. Estava vendo a história ser escrita, vi Neymar pisar pela primeira vez no gramado como profissional. Vi ele com apenas dois minutos em campo acertar o travessão, dar um passe para Roni marcar um gol. Vi o Santos fazer outro, tomar um. Dane-se, eu vi o Neymar estrear.

O juiz apitou o fim da partida, meu avô estava comemorando ao meu lado, meu irmão do outro, meu pai olhando para nós. Segurei-me para não chorar. Foi muita felicidade para apenas 90 minutos de jogo, foi emoção demais em uma simples partida de futebol. Mas não foi um simples jogo, foi o primeiro jogo do Santos que vi no estádio na companhia da família, foi a estreia do Neymar. Quer sorte maior? Nem a subida monstruosa tirou nossa alegria. Vídeo, fotos e lembranças daquele dia serão eternos, assim como o amor de quatro gerações. Amor, no futebol, é coisa hereditária: passa de pai pra filho.

Um comentário: