25 de maio de 2011

Uma Fábrica de craques

Final de Copa do Mundo. Em campo 22 jogadores correndo atrás de um outro grande sonho, ser campeão do mundo vestindo as cores de sua pátria. Realizar esse sonho é tão difícil quanto realizar o primeiro, ser jogador de futebol. Dizem que esta no gene do brasileiro amar o futebol, que esta no DNA dos homens (e hoje cada vez mais das meninas) terem uma paixão avassaladora por correr atrás de uma pelota.

Nove em cada dez meninos sonham em ser jogadores de futebol, desses nove, se um se tornar profissional já é lucro. Eu sonhei. Você sonhou. Como diz a música... “Quem não sonhou em ser jogador de futebol?”.

Na infância correr para a rua, tirar par ou ímpar, escolher o time, usar aquele kichute, pegar tijolos e contar os passos para montar o gol, sem árbitro, sem público, mas nesse momento a imaginação toma conta, na mente os grandes estádios, San Siro, Camp Nou, La Bombonera e o Maraca! A realidade é diferente, o jogo não é parado pelas faltas, mas sim pelos carros, que passam e que muitas vezes “destroem” os golzinhos.

Nesse ambiente é que a criança se ambienta com o esporte bretão, que se apaixona, que leva para o resto da vida como o momento mais feliz, em que pelo menos no seu pensamento, realizou o sonho de ser jogador. “A bola sempre foi meu brinquedo preferido, sonhava em ser convocado para a seleção, mas óbvio que isso nunca aconteceu” discorre Carlos Almeida, de 67 anos e que muito tempo sonhou em jogar futebol profissionalmente.

Hoje os sonhos das crianças continuam os mesmo... correr atrás da idolatria que o futebol trás. É difícil, pelo menos em Curitiba, ver as cenas da minha infância e da infância de muitas crianças de antigamente, quando jogava futebol no portão de casa, na rua. Hoje o futebol é além de tudo “Marketing” a cobrança vem desde cedo.

Era um domingo típico na capital paranaense, tempo cinza, possibilidades de chuva. O relógio marcava 8:15 da manhã. Hora de muitas crianças estarem em casa com os pais dormindo. Mas não! No vestiário do campo do clube olímpico que elas estavam, muitas nervosas, afinal de contas era clássico PARATIBA, categoria dente de leite. Mas como diz o ditado “clássico é clássico e vice-versa”.

O nervosismo era evidente, a briga pela numeração das camisas também, “Eu quero a oito, eu a dez, joga a nove” esbravejavam. Mas um menino me chama a atenção, com seu cabelo moicano como o de outros nove meninos , todos no estilo “Neymar”; Mas não era o cabelo que tinha atraído meu olhar, muito menos sua chuteira verde limão, mas sim a numeração que pediu, “Manda a 5”. Me aproximo, pergunto qual sua expectativa pro jogo, timidamente responde enquanto tenta amarrar as chuteiras: “Hoje é clássico, vamos em busca da vitoria mas vai ser difícil” explicou Leandro, que com apenas 10 anos respondeu a pergunta feito gente grande.

O jogo começa, estádio ‘lotado’, cerca de 150 pessoas. Os sentimentos são os de um jogo profissional, muitas vezes nem percebemos que se trata de uma partida sub-11. Palavreado típico dos jogos. É “filho da puta” pra lá, “ladrão” pra cá. Vai se “fuder” juiz de merda. E a bola comendo solta.




Observo os pais do menino da chuteira verde limão, a mãe tranquila, já o pai agitado, gritando, falando sobre o posicionamento do filho como se fosse o técnico. “ Bem que a gente tenta não colocar pressão, falo em casa que ele tem que vir para se divertir. Mas quando o juiz apita e a bola rola, vem esse sentimento inexplicável, é futebol ninguém quer sair perdendo” afirma Claudemir Gama antes de mandar o árbitro para aquele lugar.

O jogo estava bom, se o frio tomava conta da arquibancada, no campo a coisa tava quente. Boas jogadas, dribles e o que o povo mais gosta: gol! Quem balançou o barbante primeiro foi o Paraná Clube, com a única menina que estava entre os 22 que jogavam, bela cobrança de falta, onde a coruja faz o ninho, sem chance para o goleiro que detinha pouco mais de um metro e meio! Após o intervalo o tricolor continuava melhor, não demorou e fez outro gol! O Coxa só acordou no fim de jogo quando fez seu gol de honra.

Apita o árbitro fim de jogo e meus pensamentos começaram a fluir, será que vi naquele jogo algum futuro jogador? Pode ser que sim e pode ser que não! Afinal de contas são apenas crianças, mas que jogaram como se fossem veteranas. Ver o jogo foi como se tivesse aberto um relicário e visto minha infância toda em apenas 40 minutos.

Foquei minha imagem no menino Leandro que, triste, abraça o pai, mãe e irmão. Pergunto a ele qual o seu maior sonho e sem pestanejar responde “Ser jogador de futebol, jogar uma Copa e fazer um gol na final”.

Instantaneamente lembrei-me das palavras que o ex jogador Sócrates, capitão da seleção brasileira em Copa do Mundo, me falou quando o indaguei se perder um pênalti contra a França nas quartas de final de 1986 foi o pior momento da sua carreira, “Pênalti todo mundo perde, é uma questão de trabalho, isso não vale nada. Entenda o seguinte, é muito mais importante uma lágrima do que um saco de dinheiro, é muito mais importante um carinho, um abraço, do que um gol na Copa do Mundo. É muito mais importante um amor, do que ser campeão do mundo.” , respondeu o craque da seleção me dando uma lição de moral.

Somos o país do futebol, sem dúvida! Temos o Rei, o galinho, o velho lobo e um anjo das pernas tortas que nos abençoa onde quer que ele esteja. Brasil, o país onde o futebol encanta as multidões. São tantos craques, que modestamente podemos afirmar que somos uma fábrica, onde se lapida talentos, antes do terrão das várzeas, hoje das escolinhas de futebol. E que não raramente viram astros do dia para a noite como Neymar jogador do Santos e Lucas do São Paulo, meninos com menos de 20 anos que já deixaram para trás o estigma de promessa e são realidade.

Lapidamos o talento antes mesmo dele nascer, o primeiro presente de um menino é uma bola, o primeiro uniforme que veste é o do time de coração do pai. Se bobear a primeira palavra que exclama, é GOL! Das milhares de crianças que jogam futebol no Brasil e que sonham em disputar uma final de copa e ser campeão vestindo o manto canarinho, talvez nenhuma delas seja, olha quantos craques que não foram. Mas sonhar faz bem!

Eu sonhei, você sonhou, lembra? Se não fui, na realidade, já fui no vídeo-game; se não marquei meu gol no Maracanã, ainda sonho em marcar. “Sonhei e continuo sonhando, nunca é tarde para marcar um gol no Maraca”, meu avô me disse uma vez!
Somos um país onde a imagem de um menino que cresce e sonha em se tornar um bem sucedido jogador de futebol, continua mais presente. Somos o país com um talento impressionante para fabricar craques, agora basta esperar e ver o quão produtiva vai ser a próxima safra.

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